No início de Junho de 2018, decidimos ir fazer uma semana de férias em família na ilha da Madeira, com um dia em Porto Santo. Esta seria a minha primeira visita à ilha da Madeira. Apesar da observação de aves não ser o objectivo principal, sempre que houve oportunidade registei as espécies observadas. Estava particularmente interessado em ver Pombo-trocaz e Estrelinha-da-Madeira. Tive também a oportunidade de realizar uma saída pelágica de quatro horas, a partir do Funchal, com a Birds & Company. A saída pelágica revelou-se um sucesso e é, sem dúvida, uma excelente adição ao itinerário para quem vai ver aves na Madeira. Espécies como o Calcamar e as Freiras tornaram a saída inesquecível. Infelizmente não consegui ver a Freira-da-madeira (Pterodroma madeira). Este artigo pretende ser apenas uma lista anotada das espécies de aves observadas durante a minha viagem à ilha da Madeira e Porto Santo. 1. Freira (Pterodroma sp.); Provavelmente Freira-do-Bugio (P. deserta), observados dois inds. durante a saída pelágica do dia cinco de Junho 2018. Infelizmente não consegui fotos. 2. Alma-negra (Bulweria bulweri) Cerca de setenta inds. observados durante a pelágica, alguns muito próximos do Funchal. Outros tantos observados durante a travessia de ferry para Porto Santo. 3. Cagarra (Calonecris diomedea) Bastante abundante durante a saída pelágica. 4. Pardela-sombria (Puffinus puffinus) Dez inds. observados durante a pelágica. 5. Calcamar (Pelagodroma marina) Apareceu um ind. durante a pelágica atraído pelo engodo. 6. Alma-de-mestre (Hydrobates pelagicus) Apareceu um ind. durante a pelágica atraído pelo engodo. 7. Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) Um ind. na foz da ribeira de Câmara de Lobos. 8. Gavião (Accipiter nisus granti) Um ind. na ribeira de São Vicente. 9. Búteo (Buteo buteo) Observados dois inds. na ponta do Pargo. 10. Peneireiro (Falco tinnunculus canariensis) Observado um ind. na ponta do Pargo. 11. Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis atlantis) Vários inds. observados em praias e portos. 12. Andorinha-do-mar-comum (Sterna hirundo) Observados vários inds. na zona do Funchal e Caniçal. 13. Andorinha-do-mar-rósea (Sterna dougalli) Observados 3-4 inds. no porto do Funchal. 14. Pombo-trocaz (Columba trocaz) Observados vários inds. no miradouro dos Balcões (Ribeiro Frio) e nas encostas de Porto Moniz. 15. Rola-turca (Streptopelia decaoto) Observados vários inds. na ilha de Porto Santo. 16. Andorinhão-unicolor (Apus unicolor) Vários inds. em diversos pontos da ilha, particularmente abundantes na zona de Caniço. 17. Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) Observado um ind. na zona de Caniço. 18. Corre-caminhos (Anthus berthelotii) Vários inds. na ponta de São Lourenço e na ponta do Pargo. 19. Álveola-cinzenta (Motacilla cinerea schmitzi) Observados vários inds. em diversos pontos da ilha da Madeira. 20. Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) Observado um ind. no Funchal. 21. Melro (Turdus merula cabrerae) Observados vários inds. no Funchal. 22. Toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla heineken) Observados vários inds. em diversos pontos da ilha da Madeira. 23. Toutinegra-tomilheira (Sylvia conspicillata bella) Observado um macho a cantar na ponta do pargo e outro na Eira do Serrado. 24. Estrelinha-da-Madeira (Regullus madeirensis)
Observados e ouvidos vários inds. em jardins do Funchal e Ribeiro Frio 25. Pardal-espanhol (Passer hispaniolensis) Observados vários inds. na ilha de Porto Santo. 26. Canário-da-terra (Serinus canaria) Observados vários inds. em diversos pontos da ilha da Madeira. 27. Pintassilgo (Carduelis carduelis parva) Dois inds. na ponta do Pargo. 28. Tentilhão ( Fringilla coelebs madeirensis) Vários inds. um pouco por toda a ilha da Madeira. Muito fácil de ver no miradouro dos Balcões.
0 Comments
No início de Janeiro de 2019 encontrei duas Petinhas-de-richard (Anthus richardi) nos campos adjacentes à ETAR da Atouguia da Baleia (Peniche). A presença de petinhas-de-richard, durante o Inverno, tem sido anual nestes campos. Neste Outono, um dos campos foi lavrado e as petinhas têm passado bastante tempo em alimentação fora da erva alta, em particular a alimentarem-se de minhocas. De telescópio e banco dobrável em riste, passei algum tempo a estudar o comportamento e a muda destes dois indivíduos.
Muda nas Petinhas-de-richard Pós-nupcial (adultos): É complexa e variável, mas parece seguir 3 estratégias distintas: 1. Aves que efectuam a muda completa nos territórios de reprodução (Julho-Setembro) 2. Aves que suspendem a muda e retomam nos locais de Invernada. 3. Aves que efectuam a muda completa nos locais de Invernada. Pós-juvenil: Muda parcial que pode ser mais ou menos extensa. Muitas vezes a muda parcial envolve a muda das penas da cabeça e do corpo, deixando por mudar as penas do manto, uropígio e supra-caudais. A muda é também efectuada a um número variável de coberturas (pequenas, médias e, menos extensivamente, as grandes). Por vezes, algumas terciárias e rectrizes também são mudadas durante a muda pós-juvenil. Entre Outubro e Janeiro poderá existir uma muda "adicional", onde algumas aves mudam as penas do corpo, rectrizes, terciárias e grandes coberturas. Pré-nupcial: Muitas aves, adultos e imaturos, efectuam uma muda parcial pré-nupcial, que envolve geralmente o corpo, algumas coberturas e rectrizes. As aves de Peniche As duas petinhas que estavam em Peniche eram notoriamente distintas na coloração, sendo relativamente fácil saber exactamente que individuo estava a observar em cada momento. As aves estiveram algum tempo em alimentação próximas uma da outra, o que permitiu uma comparação directa com a mesma luz e ângulo. Apesar de, por vezes, as fotos poderem alterar ligeiramente as cores, parecem-me, neste caso, bastante fieis ao que observei no campo. O Ind. (A) era mais claro de uma forma geral. As partes inferiores eram brancas com leve infusão creme, quase restrito à parte inferior dos flancos. O manto era pálido com um mesclado escuro formado pelo centro de algumas penas do manto. As aves, apesar da aparência distinta, são ambas imaturas (1º Inverno), revelado pelo padrão, coloração e desgaste de algumas grandes coberturas. Extensão de muda no Ind. (A)
O Ind. (A), tal como já tinha referido, era notoriamente mais pálido, creio que pelo facto de ter feito uma muda parcial pós-juvenil ainda antes da migração, o que leva a que a plumagem apresente algum desgaste. A muda, daquilo que consegui observar, pareceu-me simétrica. Esta ave apresenta pelo menos três gerações de penas distintas: Penas de juvenil, que inclui, aparentemente, as primárias, secundárias, coberturas primárias e grande parte das grandes coberturas; Penas adquiridas na muda pós-juvenil (antes das migração), que incluem médias coberturas, grande cobertura (Gc 10), terciárias (T8), rectrizes (R1 e aparentemente R2); As escapulares e pequenas coberturas parecem ter sido substituídas numa muda pós-juvenil de início de Inverno.
(1) - Médias coberturas visíveis, mudadas na muda pós-juvenil, apresentam um rebordo largo e amarelado, que merge gradualmente em centros escuros. (2) - Grandes coberturas n.º 1-9, com padrão de juvenil, apresentando um rebordo fino e branco. (3) - Grande cobertura n.º 10, parece mudada durante a muda pós-juvenil, o centro da pena é mais escuro quando comparado com as outras Gc e o rebordo mais largo e amarelado. (4) - As escapulares e pequenas coberturas parecem ser de uma geração diferente, mais recente. A julgar pelo pouco desgaste, mudadas no local de Invernada. Notei a coloração mais vívida, destacando-se mesmo do resto da plumagem. (5) - Terciárias mais curtas (T9), ainda de juvenil, coloração castanho-clara e com bastante desgaste. (6) - Terciárias centrais (T8), mudadas durante a muda pós-juvenil, apresentando semelhança na coloração e nível de desgaste com a Gc 10. Apesar de ser difícil de ver nas fotos, fiquei com a sensação no campo, que a T7 eram ainda de juvenil. (7) - Primárias e coberturas supra-caudais de juvenil. (8) - O par central de rectrizes (R1) foi mudado durante a muda pós-juvenil e ao que parece as rectrizes R2, direita e esquerda, também. Muda de corpo - Aparentemente a ave mudou algumas penas do manto, cabeça e partes inferiores durante a muda pós-juvenil. É difícil avaliar a extensão desta muda sem ver a ave na mão. Contudo, a avaliar pela coloração esbatida das listas do peito, da lista malar e sub-ocular, não ocorreu nenhuma muda de da cabeça e do peito na área de invernada. Extensão de muda no Ind. (B)
Comparativamente com o Ind. (A) esta ave era mais escura e tinha grande parte da plumagem em bom estado de conservação. Ao que parece, o Ind. (B), efectuou uma muda pós-juvenil de princípio de Inverno um pouco mais extensa. É difícil saber ao certo se esta ave teria mudado algumas das coberturas numa muda pós-juvenil antes da migração, mas é provável que tenha sido muito limitada. As penas caudais estavam em muda activa, dado o bom estado de conservação das restantes penas, recentemente mudadas, a ave poderá estar ainda a finalizar a muda.
![]()
(1) - Médias coberturas mudadas recentemente, numa muda de início de Inverno, excepção talvez na cobertura média n.º 4. Ao comparar com as outras coberturas adjacentes, parece ter uma coloração mais pálida nas orlas e com um centro mais esbatido. É visível também uma pequena cobertura (Pc) de juvenil.
(2) - Grandes coberturas n.º 1-7 de juvenil. As coberturas primárias e cobertura carpal são também de juvenil. (3) - Grandes coberturas n.º 8, 9 e 10 mudadas recentemente, o rebordo creme merge gradualmente no centro escuro da pena. (4) - Terciárias T9 e T7 de juvenil, mas o par central (T8) foi substituído recentemente. (5) - Primárias de juvenil. Não posso descartar a hipótese de algumas secundárias terem sido mudadas, porque não foi possível confirmar.
(6) - O padrão do manto é visivelmente mais forte e mais agrupado em riscas, que no Ind. (A). As penas do manto e uropígio parecem ter sido mudadas recentemente.
(7) - Rectriz R1 direita de juvenil. A rectriz R1 esquerda parece estar em falta e a R2 esquerda está em crescimento, já a cerca de 3/4 do desenvolvimento. Muda de corpo - Parece ter ocorrido uma muda de corpo relativamente extensa no inicio do Inverno. De uma forma geral, a plumagem estava com muito pouco desgaste. A coloração bem marcada das manchas do peito, listra malar e sub-ocular revelam que a muda envolveu também a cabeça e peito. Os flancos eram de um bege intenso. Chamamentos
Foi possível gravar alguns chamamentos em voo. Na gravação (Fig. 10), podem ouvir-se os dois indivíduos a emitir chamamentos em voo.
Bibliografia
Alström, P, Mild, K & Zetterström, B 2003. Pipits & wagtails of Europe, Asia and North America: identification and systematics. London.
Svensson, L 1992. Identification guide to European passerines. Fourth edition. Stockholm.
Informação adicional sobre o estatuto da Petinha-de-richard em Portugal: aqui
Numa deslocação a Peniche aproveitei a gentileza de um Pato-preto (Melanitta nigra), que se deixou observar e fotografar durante algum tempo dentro do porto de pesca. Foi um óptimo exercício poder estudar os detalhes da plumagem e comportamento. A face clara típica da plumagem de juvenil, ou de fêmea adulta, começa nos machos a ficar escurecida à medida que a muda vai avançando. A mancha no bico progride de um tom esverdeado para amarelo. ![]() A touca escura é mais estreita junto à base do pescoço. Ao contrário do que seria espectável em Melanitta americana. |
Helder CardosoComeçou a observar aves aos 11 anos e desde então nunca mais parou. Desenvolveu trabalho em anilhagem de aves, dedicando-se especialmente ao fenómeno da muda em passeriformes. Actualmente trabalha como guia de observação de aves em Portugal e Espanha, e como consultor ambiental. Procurar por mês:
February 2019
Procurar por categorias:
All
Projecto:
©Helder Cardoso. Todos os direitos reservados.
|